O tom amistoso da conversa entre os dois governadores diminuiu a preocupação de alguns correligionários de Cid
Para a cúpula do Governo cearense, mais amistosa não poderia ter sido a conversa entre os governadores do Ceará e de Pernambuco, Cid Gomes e Eduardo Campos, testemunhada pelo presidente da Assembleia Legislativa cearense, deputado José Albuquerque e Roberto Cláudio, prefeito de Fortaleza, além do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, e do senador Rodrigo Rollemberg (DF), no início da última semana, em Recife, para aclarar as dissensões registradas pela imprensa, entre o PSB do Ceará, comandado por Cid Gomes e o nacional liderado por Eduardo Campos.
Cid Gomes e Eduardo Campos, pelo menos até agora, estão em campos opostos quanto à posição do PSB, presidido nacionalmente pelo governador pernambucano, em relação à sucessão presidencial FOTO: AGÊNCIA BRASIL
Partiu dos cearenses a iniciativa do encontro. Ele se fazia necessário para aplacar a inquietação dos aliados governistas daqui, em face dos posicionamentos divergentes dos dois governadores quanto a posição do PSB em relação à sucessão da presidente Dilma Rousseff. Cid quer o seu partido apoiando Dilma, e Campos admite ser ele próprio um concorrente da presidente.
Educadamente, e com as devidas ponderações, o governador pernambucano explicitou sua posição pessoal, observando, porém, só levar ao partido essa sua pretensão de ser candidato, no início de 2014, quando definido estiver a acomodação das forças políticas diante do novo quadro partidário nacional, e, evidente, as alianças e nomes postos para a disputa presidencial.
Projeto
Eduardo Campos, ao dizer da sua disposição de postular a chefia do Executivo nacional, mostrou estar ciente das implicações e consequências políticas do seu desiderato dentro do PSB, em vários estados brasileiros, inclusive no Ceará. Como presidente nacional da agremiação, e essa parte foi a mais tranquilizante para o pessoal do Ceará, o governador pernambucano deixou claro ter preocupação com o todo do partido, respeitando as peculiaridades locais, naturalmente, sem prejudicar o projeto maior, no caso o crescimento da sigla, tanto na parte referente à eleição de governadores, como ao aumento da bancada no Congresso Nacional.
Cid Gomes, pelo trabalho feito anteriormente na defesa da permanência do PSB aliado ao PT, nacionalmente, sabe da resistência de governadores do seu partido à candidatura de Eduardo Campos, notadamente dos pretendentes à reeleição.
Refletindo
Pela dependência dos seus estados à ajuda federal, eles defendem apoio à postulação da presidente Dilma. Essa situação alimenta a ideia de, no momento da tomada de decisão do partido, no próximo ano, melhor refletindo, o governador Campos adie o seu projeto presidencial e todos voltem a comungar do mesmo objetivo.
O relato da conversa dos dois governadores e aliados, feito para alguns líderes do partido no Ceará, aliviou a tensão existente diante do noticiário dando conta de intervenções da direção nacional do PSB em diretórios contrários à ideia de candidatura própria à sucessão presidencial.
A cordialidade do encontro, como transmitido, inclusive a uns poucos deputados, foi suficiente para dispensar algumas indagações programadas para serem feitas ao governante pernambucano pelo deputado José Albuquerque, com o objetivo de demarcar espaços e nortear a posição do grupo neste momento limite das filiações partidárias.
Reservadamente, alguns aliados do governador não escondiam a intranquilidade com as divergências de posição dos dois governadores e a possibilidade de Campos conseguir apoio da executiva nacional e decretar a intervenção no diretório estadual, deixando todos daqui na dependência de ter ou não a legenda para tornarem efetivas as suas candidaturas.
Recuar
Ainda surgirão muitas especulações sobre essa questão. De fato, apesar das buscas de entendimento, ela ainda suscitará muito debate. Cid, pelo compromisso já assumido com a presidente Dilma, dificilmente terá como recuar, mesmo sendo Eduardo Campos candidato.
Pessoalmente, ele pode até montar um palanque para a presidente Dilma no Ceará. Mas, e os seus correligionários, presos à Lei da Fidelidade Partidária, como ficarão? As coligações sendo feitas, como realmente são, entre partidos, sofrerão um grande impacto no Ceará. Uma candidatura de Eduardo Campos desmorona o projeto, até aqui arquitetado pelo governador, de reunir em torno do seu candidato a governador o PT e o PMDB, em especial, responsáveis pelos maiores tempos da propaganda eleitoral, um dos itens mais significativos em qualquer campanha eleitoral dos nossos dias. O tempo do PSB é pequeno.
EDISON SILVA EDITOR DE POLÍTICA