Morreu aos 97 anos em 1999, a autora da versão em português, escolhida em um concurso realizado pela Rádio Nacional (1941), a poetisa paulista Bertha Celeste Homem de Mello. (Pindamonhangaba, 21 de março de 1902 - Jacareí, 16 de agosto de 1999) foi uma poetisa, farmacêutica e professora brasileira.
Comemoração. Dona de casa paulista fez a versão em português do clássico dos aniversários
O coração da dona de casa paulista Bertha Celeste Homem de Mello (1902-1999), moradora de Pindamonhangaba, bateu mais forte quando o locutor da Rádio Tupi do Rio de Janeiro anunciou que ela tinha vencido o concurso nacional para escolher a letra do Parabéns a Você.
Diplomada em farmácia, mas sem trabalhar na profissão, levava a vida pacata de mulher do interior. Dedicava-se aos afazeres domésticos, cuidava da filha única, com o marido, passava o dia ouvindo o velho rádio de válvulas. Já participara de outros concursos a distância, inscrevendo-se pelo correio, mas aquele era o mais importante. Corria o ano de 1942 e nosso país atravessava mais um período de fervor nacionalista.
O cantor, compositor e radialista carioca Almirante (1908-1980), contagiado por esse sentimento, irritava-se quando ouvia os brasileiros cantarem, em inglês, o Parabéns a Você. A música foi composta em 1875, nos Estados Unidos, pelas professoras irmãs Mildred e Patricia Smith Hill, para seus alunos de Louisville, no Estado do Kentucky, entoarem de manhã, na chegada à escola. Tanto que se intitulava Good Morning to All (Bom-dia para Todos). Em 1924, porém, um livro de partituras festivas a rebatizou de Happy Birthday to You (Feliz Aniversário para Você) e a canção mudou de finalidade. Nove anos mais tarde, espalhou-se pelo mundo, após virar tema da peça teatral homônima apresentada na Broadway, de Nova York.
Almirante considerava a letra americana "monótona" e criticava os brasileiros por "enrolarem a língua ao cantá-la". Originalmente, repetia quatro vezes a frase happy birthday to you. Só na terceira o to you era substituído por dear, acrescido do nome do(a) aniversariante.
Almirante realizou um concurso para escolher uma letra patriótica, ou seja, em português.
Na época, ele comandava um programa musical de grande audiência na Rádio Tupi do Rio de Janeiro. A fim de conferir respeitabilidade ao concurso, formou um júri com os escritores Olegário Mariano, Cassiano Ricardo e Múcio Leão, todos da Academia Brasileira de Letras.
Recebeu em torno de 5 mil cartas, do país inteiro. O trio escolheu a quadrinha de Bertha de Mello: "Parabéns a você/nesta data querida/muita felicidade/muitos anos de vida"! A vencedora não gostava que cantassem errado seu verso. "Escrevi ‘parabéns a você’ e não ‘pra você’, como muitos falam", esclarecia. "Também não é ‘nessa data querida’, porém ‘nesta data’, ou seja, a que se festeja. Igualmente, em vez de ‘muitas felicidades’, diz-se ‘muita felicidade’, que é uma só."
Não se sabe o que acharia, hoje, do barulhento "é pique, é pique, é pique, é hora, é hora, é hora", acoplado décadas mais tarde ao Parabéns a Você. Também é contribuição paulista. Originou-se entre 1925 e 1926, em uma brincadeira do estudante Mário Ribeiro da Silva, da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, feita no bar Pérola do Douro, do centro da cidade.
Nas horas de boêmia, ele formava um trio divertido, o Grupo do Pudim, com os colegas Aru Medeiros e Ubirajara Martins de Souza, apelidado de Pique-Pique pelo bigode de pontas retorcidas, como se fossem duas lanças de pontas para cima. As versões divergem. Uma delas conta que, por ser tarde, o Grupo do Pudim precisava ir para casa. Mas Ubirajara de Souza, o Pique-Pique, queria ficar no Pérola do Douro para tomar mais uns goles. Afinal, era seu aniversário.
Encerrando a comemoração, Mário da Silva fez um brinde ao amigo, gritando "pique-pique, pique-pique, pique-pique". Ubirajara retrucou: "Meia-hora, meia-hora, meia-hora". Outra versão diz que falou assim "porque costumava brincar criando frases desconexas".
O brado se espalhou pela Faculdade de Direito. Foi incorporado ao Parabéns a Você com a "meia-hora" transformada em "é hora". Finalmente, acrescentou-se o "rá-tim-bum". Bertha de Mello, senhora educada, que compôs jingles e canções - é autora, com o pseudônimo Léa Magalhães (Condessinha), de Capelinha do Arraiá, cantada por Rolando Boldrin - jamais cometeria tanta deselegância.
Nos últimos anos os caolicos incorporaram um final diferente com uma espécie de uma pequena oração. "Que Jesus abençções esta nossa oração que Maria lhes guarde dentro do coração".
Dias Lopes.