No dia 27 de outubro de 1926 nascia no Bairro Betânia, na cidade de Várzea Alegre o segundo filho de Antônio Gonçalo Araripe e Maria Aninha de Sousa. Este recebeu o nome de Raimundo, em homenagem ao Santo Padroeiro da cidade. Começava ali uma trajetória de vida montada com sacrifícios, vitórias, alegrias, tristezas, mas, acima de tudo, por uma impressionante dedicação ao trabalho e à dignidade.
O pai, Antônio Gonçalo, era uma mistura de agricultor e tropeiro, portanto, os filhos tinham que ajudá-los nos trabalhos. As condições financeiras e de infra- estrutura pública da época eram precárias, sendo assim, a oportunidade de se aprofundar nos estudos era praticamente impossível. Somente nas idas e vindas entre uma viajem e outra era possível frequentar a escola. Talvez juntando tudo tenha feito o equivalente ao segundo ano primário, o que para época já era muita coisa. O importante mesmo era saber ler e escrever.
Logo cedo teve que seguir viagens por esse mundão afora (Cedro, Lavras, Crato, Campos Sales) e outros mais, participando de feiras, trocas de animais, compras de gêneros, etc. Já aprendendo a conhecer as artimanhas e as dificuldades da vida.
Essa base de estudo muito lhe serviu no desenrolar de suas atividades de tropeiro e agricultor.
Em 1º de setembro de 1950, casava-se com Rita Maria de Sousa. Dali partiram com Fé confiança e coragem para uma trajetória de trabalho e uma vida dedicada a manter os laços familiares, gerar uma consciência de responsabilidade para os filhos e, acima de tudo, formar uma convivência pacifica e ordeira com a vizinhança.
Tem aquele velho ditado popular que diz: "Atrás de um grande homem tem sempre uma grande mulher". E estritamente impossível não considerar que D. Rita, foi realmente um baluarte na formação da família e na profissão do nosso pai. Não temos como definir uma profissão para ela poderia ser considerada como coadjuvante de tropeiro, gestora de agricultura, mestre de cozinha, costureira etc.
É impressionante observamos que até hoje domina com maestria os planos e sabe corrigir e orientar tanto os planos da sua casa como o dos filhos, tudo com a maior democracia e conciliação. É a partir dele que renasce a cada dia o espirito religioso e de humanidade da família.
Dessa união hoje existem 9 filhos. José, Luiz (Duda), Maria do Carmo (Carmen) in memoriam, Antônio, Vicente (Neném), Francisco (Diá), Maria Amélia, Marlene e Pedro(in memoriam), 15 netos e 01 bisneto.
Por onde passou e esteve sempre cultivou amizades e, com misto de carrancudo e seu lado descontraído vai levando. Quando é preciso aplicar uma certa moralidade fica fácil, pois já é uma coisa natural desse seu jeito. Quando o assunto deslancha para alguma descontração com seu jeito divertido irreverente de falar arranca gargalhadas de todos. Dentre tantas quando fala que os celulares dos seus netos "semiricos” estão sempre “desacreditados".
Hoje, ao completar 99 anos de idade, o Sr. Mundinho talvez ainda tenha saudade do tempo que transitava como tropeiro entre Várzea Alegre e a Serra do Quincuncá. Mas logo vem a conformação por perceber que está tranquilo com a vida que leva e que angariou muita experiência e amizade, como tropeiro e agricultor, sendo admirado por todos pela determinação e apesar da idade, ainda continua pensando e acreditando no futuro.
O nosso reconhecimento de sua bravura pelos seus 40 anos de tropeiro. Foi ali com aquela simples profissão e com a tenacidade e coragem, que angariou experiência e, acima de tudo, condições financeiras para levar uma família humilde e numerosa a estudar, ter dignidade, respeitar as pessoas e reconhecer o seu lugar de gente humilde, mas de cabeça erguida.

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