quinta-feira, 25 de agosto de 2011

POESIA - VERSO E HISTÓRICO DA VENDA DO PATRIMÔNIO DE SÃO RAIMUNDO NONATO


De 1918 a 1923 o Padre José Alves de Lima foi o titular da Paróquia de São Raimundo Nonato, em Várzea-Alegre. Em 1919 a Diocese do Crato decidiu fundar a primeira instituição financeira da região, o Banco do Cariri S/A. O Bispo da Diocese orientou as paróquias a subscreveram ações do banco e o padre Lima decidiu vender o patrimônio de São Raimundo doado pelo Major Joaquim Alves Bezerra e outros amigos na época da criação da paróquia em 30.11.1863. O padre procurou o prefeito de então Cel António Correia Lima, que diante do clamor e revolta dos paroquianos não aceitou fazer o negócio. Porém a venda foi feita a Dirceu de Carvalho Pimpim e o padre ameaçou com a ex-comunhão quem se colocasse contra sua decisão. Manuel António de Sousa, do sitio Varzinha, fez um verso intitulado "Verso da venda do patrimônio de São Raimundo", que durante dezenas de anos foi cantado e decantado nos adjuntos de apanha de arroz, nos maneiros paus, e nas festas da cultura popular. Poucos conhecem a obra de Manuel António de Sousa e este resgate histórico marca também o surgimento do primeiro foco de protestantes do município, passando pela Varzinha de Manuel António e pela Vacaria dos Ginos e Anicetos. Hoje em dia ninguem tem estes versos, com excessão do Dr. Pedro Satiro que me pediu uma copia ha bem pouco tempo, e, agora O Informativo Tempo de Crescer para exclusividade dos seus leitores. Vejam como a vida se renova - Há 93 anos atraz Manuel Antonio versejava protestando contra a venda do patrimônio de São Raimundo. Hoje Claudio Sousa e Mundim do Vale versejam em protesto contra a venda deste mesmo patrimônio, desta vez já pertencente a seu Dirceu.

 

Eis a integra:

 

Leitores eu vou contar

Como anda o nosso mundo

Conto o primeiro capitulo

E depois conto o segundo

É coisa que intimida

Nunca visto em nossa vida

Foi questão com São Raimundo

 

Nosso mundo está perdido

Valei-me meu Santo António

Se assim acontecer

Fica o lugar tristonho

O tempo tudo descobre

São Raimundo fica pobre

Se vender o patrimônio

 

Nosso mundo está perdido

Só por causa do dinheiro

Os homens que se ordenam

São os mais interesseiros

Já querem tomar a pulso

Querem deixar sem recurso

Nosso santo padroeiro

 

Devemos viver a calma

Não se envolver na questão

Porque somos inocentes

Não sabem quem tem razão

Mesmo estamos ex-comungado

E pode ficar arriscado

Para nossa salvação

 

É certo que não faz medo

Esta triste excomunhão

Porque Deus só quer do homem

É um firme coração

Isto é palavra a toa

Que o padre amaldiçoa

E Jesus nos manda o perdão

 

Deus deixou padre no mundo

Para reger a doutrina

Ser zelador da igreja

Com a santa lei divina

Mas os padres do presente

Cada qual é mais valente

Com palavra libertina

 

O pobre tudo agüenta

O rico não se sujeita

E por esta causa e outra

Vivemos nesta impeleita

A igreja não merece

Mas se o padre quisesse

Fazia a coisa direita

 

O povo que não entende

Calunia o pessoal

Diz que em Várzea-Alegre

Padre vem e se dar mal

Executemos a questão

Para ver quem tem razão

De onde vem o sinal

 

Deus deixou padre no mundo

Para reger a igreja

Deus não deixou ordem em padre

Para lutar com peleja

E depois se zangar

Subir para o altar

E falar tudo que deseja

 

É certo que protestante

Nesta terra ainda não tem

Por causa destes abusos

Aparecem mais de cem

E se o orgulho aumentar

E alguém quiser virar

Chame que viro também

 

Deus deixou padre no mundo

Para absolver pecado

Mas por causa do dinheiro

Fez o povo excomungado

Veja quanto é valoroso

O nosso Deus poderoso

Vive sempre ao nosso lado

 

Leitores devem lembrar

Daquele verso terceiro

Que diz que neste mundo

Só quem vale é o dinheiro

Veja como acontece

Até o padre se esquece

Do nosso Deus verdadeiro

 

Pergunto ao nosso Deus

Porque foi esta questão

Respondeu-me Jesus

De todo meu coração

O padre falou em negocio

O prefeito disse não posso

Daí veio a maldição

 

Castigue quem merecer

A defesa é natural

Não faço nada por mal

Vós me queira defender

É que nosso padroeiro

Não precisa de dinheiro

Não precisava vender

 

Ó Virgem da Conceição

Meu Jesus sacramentado

Proteja minha inocência

Se nisso estiver culpado

Valei-me a providencia

Proteja minha inocência

Se eu estiver errado

 

Eu habito em Santo António

Não me cabia este artigo

Apenas fiz este verso

A pedido de um amigo

Vou dar meu nome completo

Eu me chamo Felisberto

Da Costa Sousa Perigo

 

Manuel António de Souza

Sitio Varzinha - Várzea-Alegre

 

Copilado do www.blogdosanharol.blogspot.com


Um comentário:

  1. Prezado Claudio.

    Esta é uma importante peça historica que não se perdeu graças a essa nossa vontade de registrar nossa memoria. No dia que fui a casa de Vitorino Freire para tentar fazer este resgate, porque eu sabia todos os versos mas não sabia a ordem ouvi uma observação da esposa dele: Esse rapaz não tem o que fazer não?

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