De
1918 a 1923 o Padre José Alves de Lima foi o titular da Paróquia de São
Raimundo Nonato, em Várzea-Alegre. Em 1919 a Diocese do Crato decidiu fundar a
primeira instituição financeira da região, o Banco do Cariri S/A. O Bispo da
Diocese orientou as paróquias a subscreveram ações do banco e o padre Lima
decidiu vender o patrimônio de São Raimundo doado pelo Major Joaquim Alves
Bezerra e outros amigos na época da criação da paróquia em 30.11.1863. O padre
procurou o prefeito de então Cel António Correia Lima, que diante do clamor e
revolta dos paroquianos não aceitou fazer o negócio. Porém a venda foi feita a
Dirceu de Carvalho Pimpim e o padre ameaçou com a ex-comunhão quem se colocasse
contra sua decisão. Manuel António de Sousa, do sitio Varzinha, fez um verso
intitulado "Verso da venda do patrimônio de São Raimundo", que
durante dezenas de anos foi cantado e decantado nos adjuntos de apanha de
arroz, nos maneiros paus, e nas festas da cultura popular. Poucos conhecem a
obra de Manuel António de Sousa e este resgate histórico marca também o
surgimento do primeiro foco de protestantes do município, passando pela
Varzinha de Manuel António e pela Vacaria dos Ginos e Anicetos. Hoje em dia
ninguem tem estes versos, com excessão do Dr. Pedro Satiro que me pediu uma
copia ha bem pouco tempo, e, agora O Informativo Tempo de Crescer para
exclusividade dos seus leitores. Vejam como a vida se renova - Há 93 anos atraz
Manuel Antonio versejava protestando contra a venda do patrimônio de São
Raimundo. Hoje Claudio Sousa e Mundim do Vale versejam em protesto contra a
venda deste mesmo patrimônio, desta vez já pertencente a seu Dirceu.
Eis
a integra:
Leitores
eu vou contar
Como
anda o nosso mundo
Conto
o primeiro capitulo
E
depois conto o segundo
É
coisa que intimida
Nunca
visto em nossa vida
Foi
questão com São Raimundo
Nosso
mundo está perdido
Valei-me
meu Santo António
Se
assim acontecer
Fica
o lugar tristonho
O
tempo tudo descobre
São
Raimundo fica pobre
Se
vender o patrimônio
Nosso
mundo está perdido
Só
por causa do dinheiro
Os
homens que se ordenam
São
os mais interesseiros
Já
querem tomar a pulso
Querem
deixar sem recurso
Nosso
santo padroeiro
Devemos
viver a calma
Não
se envolver na questão
Porque
somos inocentes
Não
sabem quem tem razão
Mesmo
estamos ex-comungado
E
pode ficar arriscado
Para
nossa salvação
É
certo que não faz medo
Esta
triste excomunhão
Porque
Deus só quer do homem
É
um firme coração
Isto
é palavra a toa
Que
o padre amaldiçoa
E
Jesus nos manda o perdão
Deus
deixou padre no mundo
Para
reger a doutrina
Ser
zelador da igreja
Com
a santa lei divina
Mas
os padres do presente
Cada
qual é mais valente
Com
palavra libertina
O
pobre tudo agüenta
O
rico não se sujeita
E
por esta causa e outra
Vivemos
nesta impeleita
A
igreja não merece
Mas
se o padre quisesse
Fazia
a coisa direita
O
povo que não entende
Calunia
o pessoal
Diz
que em Várzea-Alegre
Padre
vem e se dar mal
Executemos
a questão
Para
ver quem tem razão
De
onde vem o sinal
Deus
deixou padre no mundo
Para
reger a igreja
Deus
não deixou ordem em padre
Para
lutar com peleja
E
depois se zangar
Subir
para o altar
E
falar tudo que deseja
É
certo que protestante
Nesta
terra ainda não tem
Por
causa destes abusos
Aparecem
mais de cem
E
se o orgulho aumentar
E
alguém quiser virar
Chame
que viro também
Deus
deixou padre no mundo
Para
absolver pecado
Mas
por causa do dinheiro
Fez
o povo excomungado
Veja
quanto é valoroso
O
nosso Deus poderoso
Vive
sempre ao nosso lado
Leitores
devem lembrar
Daquele
verso terceiro
Que
diz que neste mundo
Só
quem vale é o dinheiro
Veja
como acontece
Até
o padre se esquece
Do
nosso Deus verdadeiro
Pergunto
ao nosso Deus
Porque
foi esta questão
Respondeu-me
Jesus
De
todo meu coração
O
padre falou em negocio
O
prefeito disse não posso
Daí
veio a maldição
Castigue
quem merecer
A
defesa é natural
Não
faço nada por mal
Vós
me queira defender
É
que nosso padroeiro
Não
precisa de dinheiro
Não
precisava vender
Ó
Virgem da Conceição
Meu
Jesus sacramentado
Proteja
minha inocência
Se
nisso estiver culpado
Valei-me
a providencia
Proteja
minha inocência
Se
eu estiver errado
Eu
habito em Santo António
Não
me cabia este artigo
Apenas
fiz este verso
A
pedido de um amigo
Vou
dar meu nome completo
Eu
me chamo Felisberto
Da
Costa Sousa Perigo
Manuel
António de Souza
Sitio
Varzinha - Várzea-Alegre
Copilado
do www.blogdosanharol.blogspot.com
Prezado Claudio.
ResponderExcluirEsta é uma importante peça historica que não se perdeu graças a essa nossa vontade de registrar nossa memoria. No dia que fui a casa de Vitorino Freire para tentar fazer este resgate, porque eu sabia todos os versos mas não sabia a ordem ouvi uma observação da esposa dele: Esse rapaz não tem o que fazer não?