VAI VIRAR
UM CINE ODEON.
Manoel
de Pedro do Sapo, tinha uma propriedade na Lagoa do Arroz, onde além de cocos,
atas e caju, tinha ainda seis pés de cajaranas. Manoel muito generoso deixava
que o pessoal tirassem as cajaranas, desde que não fossem derrubadas com varas
e nem pedras, para não atingir as verdes.
Um
dia e outro não, eu ia com Taveirinha e colhia uma cesta de cajaranas,
Taveirinha subia e eu ficava embaixo com a cesta. Ele amarrava a penca num
cordão e descia, eu desamarrava e eu devolvia o cordão pra ele. Nós já
estávamos tão simpatizados pelo proprietário, que ele ainda dava um coco pra
cada um.
Um
dia nós estávamos tirando as cajaranas, quando chegou uma senhora da rua do São
Vicente, acompanhada de uma garota que aparentava ter quinze anos.
Eu
avisei das exigências do proprietário e elas concordaram. A tia olhou para
sobrinha e ordenou:
-
Lurdinha. Tu qui é mais nova sobe, qui eu fico ajuntando.
A
mocinha, que usava vestido, Escalou a árvore pulando de galha em galha, que
mais parecia um macaco. Chegou numas galhas onde tinha mais cajaranas, botou um
pé numa galha e o outro noutra e ficou tentando pegar umas pencas.
Admirado
com a agilidade da garota, eu resolvi dar uma olhada despretensiosa, na hora
que eu olhei pra cima, a tia da garota aproximou-se de mim e gritou:
-
Lurdinha !
-
Quié tia?
-
Desça já daí.
-
Mais tia, agora é qui eu começar a tirar.
-
Desça logo. Você num tá vendo qui o minino tá danado oiando pra riba não?
-
E o que qui tem? Eu num tou sem calça.
A
Zoada da tia atraiu outros meninos que estavam em outros pés de cajaranas.
Chegando lá eles também olharam pra cima, para ver o que era que estava
acontecendo.
E
a tia insistia:
-
Muié. Desça logo daí, qui já ta chei de minino oiando pra tu.
-
E eu cum isso?
-
Mais miá fia, nessa pusição qui tu tá, dá pra ver inté o coração. Tu quer qui o
pé de cajarana de Mané do Sapo vire um Cine Odeon.
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