segunda-feira, 6 de abril de 2015

A EXTINÇÃO DO JUMENTO


Jumento, ó velho jumento
Deste de ti cem por cento
Nunca pediste um aumento
Nem promoção no emprego
Por dez motores forçavas
Por dez homens laboravas
E à noite suportavas
As mordidas do morcego

Debaixo duma cangalha
Só por um feixe de palha
Animal nenhum trabalha
Do tanto que trabalhavas
Depois de velho caído
Certo do dever cumprido
Nunca foi reconhecido
O grande lucro que davas

Teu dono te punha a sela
Depois se escanchava nela
E na frente e atrás dela
Botava mais dois guris
Furava com as esporas
Corria duas, três horas
Quebrava cinco, seis toras
De pau malhando os quadris.

Jumento, quando eu reflito
Lembro teu pêlo bonito
Parece ouvir o apito
Da força da tua voz
Chego à triste conclusão
Que a raça em extinção
Deixa saudade ao sertão
E muita falta pra nós.

Passaste dentro da brenha
Tombando feixe de lenha
Que o sertão talvez não tenha
Animal melhor de carga
Hoje, porque estás cansado
És no desprezo atirado
Pra viver abandonado
Numa vida tão amarga.

Mas não percas a esperança
De quem espera não cansa
Adia tua vingança
Para outra encarnação
Pede para o Soberano
Para nesse outro plano
Voltares um ser humano
E o homem voltar gangão.

Donzílio Luiz de Oliveira

   Poesia extraída do livro:
"Pelas trilhas da memória",
     de Donzílio Luiz.

FONTE


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