quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

10 ANOS SEM DANIELA PEREZ



Há dez anos, o Brasil testemunhava um drama que parecia cena de novela. A atriz Daniella Perez, de 22 anos, foi assassinada com 18 golpes de tesoura, no Rio de Janeiro.
Na época, ela vivia a doce Yasmin em De Corpo e Alma, trama escrita por sua mãe, Glória Perez. O mais espantoso foi a revelação da autoria do crime. Daniella havia sido morta por Guilherme de Pádua, que vivia o Bira na novela, apaixonado pela personagem Yasmin, e por Paula Thomaz, sua mulher na época.
A atriz foi assassinada na noite do dia 28 de dezembro de 1992, por volta das 21h30, logo após ter deixado os estúdios da Globo, depois de mais um dia de gravação. Seu corpo foi encontrado em um matagal da Barra da Tijuca. No dia seguinte, a notícia dividia a atenção dos brasileiros, que assistiam também à renúncia do presidente Fernando Collor.
Antes de confessar a autoria do crime, Guilherme de Pádua procurou Glória Perez e o ator Raul Gazolla, marido de Daniella, para prestar solidariedade. Raul, emocionado, teria dito para Guilherme que ele era um "grande amigo".
Logo após a confissão dos assassinos, começaram a circular várias versões que tentavam explicar o ocorrido. Entre elas, a de que Guilherme de Pádua estaria confundindo a ficção com a vida real e que estaria apaixonado por Daniella Perez. Foi cogitado, inclusive, que os dois estariam vivendo um romance fora das telas, história totalmente negada por todos os colegas de elenco.
Em janeiro de 1997, o juiz José Geraldo Antônio condenou Guilherme a 19 anos de prisão pela morte da atriz. No dia 16 de maio daquele ano, após 44 horas de julgamento, o mesmo juiz condenou também Paula a 18 anos e meio, pela sua participação no assassinato. A decisão foi comemorada pelo público presente com uma salva de palmas.



Paula Thomaz e Guilherme de Pádua estavam presos desde o momento da confissão.Na ocasião, ela estava grávida do primeiro filho do casal, Felipe, que nasceu em 1993, na cadeia. Foi o filho, aliás, o responsável pela redução da pena de Guilherme. Ele reinvindicou a redução da pena, baseado no Decreto Presidencial nº 3.226, de 29/10/1999, que concede indulto da pena ao "condenado à pena privativa de liberdade superior a seis anos, pai ou mãe de filho menor de doze anos de idade incompletos até 25 de dezembro de 1999 e que, na mesma data, tenha cumprido um terço da pena, se não reincidente, ou metade, se reincidente."
Os personagens da história
Daniella Perez - A única filha mulher da autora Glória Perez sempre quis ser artista. Começou como dançarina, atividade que, aliás, exerceu extra-profissionalmente até a sua morte prematura.
Quando morreu, aos 22 anos, Daniella estava casada com o ator Raul Gazolla, que ela havia conhecido na novela Kananga do Japão, da Manchete.
Glória Perez - Depois do assassinato da filha, Glória Perez passou a se dedicar quase que integralmente à condenação dos culpados, buscando provas através de uma investigação paralela feita com seu advogado, Arthur Lavigne. Glória chegou a convencer três pessoas que trabalhavam em um posto de gasolina, onde Daniela teria passado pouco antes de ser morta, a prestarem depoimentos contra Paula e Guilherme.
Além disso, a autora liderou um movimento nacional para mudar a lei que garante a criminosos primários o cumprimento da pena em liberdade. Recentemente, Glória tem dado várias declarações de que não acredita mais na Justiça do Brasil.
Nascida em Rio Branco, no Acre, Glória Perez é formada em História e começou a sua carreira como escritora de novelas colaborando com Janete Clair. Depois da morte da "mestra", foi Glória quem assumiu o comando da novela Eu Prometo, de 1983. Sua carreira havia começado antes, em 1979, quando ela escreveu um episódio para a série Malu Mulher, da Rede Globo. O episódio, no entanto, nunca chegou a ser gravado, mas foi ele que despertou em Janete Clair o interesse pela nova autora.
Depois da morte de Daniella, Glória ficou quase três anos sem escrever, só voltando às telas com Explode Coração, em 1995. Seu mais recente sucesso foi O Clone.
Em novembro desse ano, Glória Perez viveu mais um drama pessoal, perdendo seu filho Rafael Ferrante Perez, de 25 anos. Portador de Síndrome de Down, Rafael morreu vítima de uma torção intestinal, em Brasília, onde vivia com a avó. Agora Glória só tem um filho vivo, Rodrigo.
Guilherme de Pádua - O mineiro Guilherme de Pádua estreou na televisão na novela De Corpo e Alma, a primeira e última da sua breve carreira. Anos antes da estréia, ele chegou ao Rio de Janeiro para tentar a carreira artística. Especula-se que ele chegou a realizar trabalhos como michê, mas o fato sempre foi negado por ele.
Após cumprir um terço da pena (seis anos e quatro meses), Pádua conseguiu a liberdade condicional em 1999, por bom comportamento. No ano seguinte, a Vara de Execuções Criminais de Minas Gerais concedeu a ele a redução de 25% da sua pena, que passou para 14 anos, dois meses e 26 dias. Em 2001, ele entrou com o pedido de indulto, que o deu a liberdade esse ano. Se nos próximos 5 anos, Guilherme mantiver um bom comportamento e não se envolver em nenhum outro crime, passará a ser considerado réu primário. Caso alguém o chame de assassino, ele pode, inclusive, entrar com um processo por calúnia e difamação.
Atualmente, Guilherme de Pádua leva uma vida normal e cursa o 1º período de Ciências da Computação na PUC Minas, em Belo Horizonte, e já desenvolve trabalhos na área. Recentemente, ele foi pré-selecionado para receber uma bolsa de estudos.
Paula Thomaz - Em liberdade condicional desde novembro de 1999, Paula Nogueira de Almeida Thomaz, 28 anos, agora assinando apenas Paula Nogueira, cursa Administração de Empresas desde 2000, na Faculdade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. O privilégio da condicional veio após ela cumprir um sexto da pena de 15 anos a que foi condenada.
Ao contrário dos seus colegas, Paula não prestou vestibular. Ela conseguiu ingressar na faculdade através do Programa de Acesso Direto, aprovado há dois anos pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Através dele, o aluno que tenha obtido média sete nos três anos do ensino médio pode ingressar na faculdade sem prestar vestibular.
Paula queria estudar Ciências Contábeis, mas como o curso é à noite, ela não pode frequentar as aulas por determinação judicial. Outra determinação exige que Paula Thomaz se apresente à Justiça a cada três meses.
O casamento com Guilherme de Pádua acabou logo depois do crime. O advogado de Paula Thomaz defendeu a tese de que sua cliente estaria em um shopping no momento do crime. O de Guilherme, por sua vez, alegou que a autora das estocadas teria sido Paula. Seu cliente teria apenas imobilizado a vítima.
Em 2001 foi anunciado o segundo casamento de Paula, com Sérgio Ricardo Rodrigues Peixoto.

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