sexta-feira, 3 de julho de 2015

AO POETA ZÉ BILICA A NOSSA HOMENAGEM

O QUE É BOM TÁ GUARDADO - Por Mundim do Vale

Era mês de junho, tempo de colheta de arroz, o arroz da roça de Zé de Pedro André, tava todo maduro já a ponto de virar os cachos de tão cheios que estavam. Aquele cenário para nós da terra do arroz, era o quadro mais perfeito das obras de Deus.
Zé André promoveu um adjunto na colheta e para tanto, convidou muitos amigos como, os Joaquins, os Lobos os Zezins e muitos parentes. Convidou também o grupo de Maneiro Pau, a banda de pífano, cortador de tesouras e penitentes.
Entre os convidados estava o grande poeta das Bravas Zé Bilica.
Previnido como era, Zé André abasteceu toda a dispensa para evitar a surpresa do “ Bater o prato “ Ainda por segurança sacrificou o carneiro do seu filho Antônio Morais, que tinha sido um presente.
Depois do arroz colhido, veio as brincadeiras e o extravío de alimentos feito pelos amigos na tentativa de “ Bater o Prato “ Fato esse que não aconteceu.
Se alguém tivesse pedido para o poeta Zé Bilica improvisar uma décima sobre aquele acontecimento, ele teria feito assim:

Na festa de Zé André
Da apanha do arroz,
Não faltou baião de dois
Nem caba bom na quicé.
Oliveira mais Tindé
Fizero um pote medõe
E Seu zé André risõe
Adimirando a fartura.
Cumêro inté a fussura
Do carneiro de Ontõe.

Na hora da despidida, o poeta Zé Bilica convidou Zé André, para uma vaquejada que ele faria no mês de setembro seguinte. Zé André firmou o compromisso e quando foi na data marcada seu filho Antônio veio a Várzea Alegre e de lá fioram as Bravas.
Chegando nas Bravas, já foram vendo a poeira feita pelos animais, em seguida viram numa latada um forró com o sanfoneiro desafinado, os cavalheiros embriagados e as damas com saias curtas e as blusas decotadas.
Zé André que tinha um comportamento arredío para aquelas coisas Perguntou para Antõnio:
- Meu filho. Essa meninas dançam só de cinto?
Só isto bastava para deixar Zé André constrangido, mas como se não bastasse ainda tinha a agravante de já ser duas horas da tarde e ninguém ter notícia de comida. O convidado que tinha costume de almoçar às nove horas e jantar às 03:00 horas da tarde, já estava pálido de fome e com gastura do cheiro de óleo de coco, que vinha dos cabelos das damas.

Uma certa hora lá Zé escutou a vocalista cantar:
O que é bom tá guardado,
O que é bom tá guardado.
Mas só dou a Chico Véi,
Porque é meu namorado!

Zé André pegou na mão do filho e falou:
- Vamos meu filho. Que o que tá guardado, não é pra nós não.

Se alguém tivesse pedido para o poeta Zé Bilica fazer uma décima da despidida de Zé André, teria saído mais o menos assim:

Seu Zé não faça fiura
Cum nosso povo das Brava,
Tem doze quilo de fava
Cunzinhando na frivura.
Vem quarenta rapadura
Do ingém de João Bilé
E um Magote de muié
Lá do Riacho do Mei.
Ispere. Num faça fei,
Ispere. Seu Zé André.

DO BLOG DO SANHAROL - POR MUNDIM DO VALE

Nenhum comentário:

Postar um comentário