Notabilizado por sua tragicômica
passagem pela presidência da Câmara dos Deputados, em 2005, Severino Cavalcanti
(PP-PE) volta agora ao noticiário inserido em mais um capítulo lamentável da
crônica política brasileira. Após quatro anos à frente da Prefeitura de João
Alfredo (PE), Cavalcanti deixou a cidade sucateada: a sala de cirurgia do único
hospital foi interditada, vacinas se perderam com corte de energia, servidores
estão com salários atrasados e fornecedores não foram pagos, entre outros casos
de inaceitável desorganização administrativa. Cavalcanti não é o único, mas
está entre os exemplos mais notórios de políticos que não foram reconduzidos ao
cargo e entregaram a seus sucessores uma prefeitura em situação de penúria. Num
episódio folclórico, mas nem por isso menos deplorável, o novo alcaide de Santo
Amaro das Brotas (SE), Luis Gallardo (PSL), teve de fazer seus primeiros
despachos debaixo de uma árvore --e ali mesmo, na praça central da cidade,
empossou seu secretariado. Gallardo, assim como tantos outros eleitos, recebeu
seu gabinete sem energia elétrica e ocupado por utensílios nada afeitos à
rotina da gestão municipal, como panelas de cozinha e botijões de gás. Pululam,
Brasil afora, casos semelhantes. Prédios públicos depredados, luz, internet e
telefone cortados por falta de pagamento, veículos quebrados e encostados,
ausência de móveis básicos. Em Chapadão do Céu (GO), Rogério Graxa (PP) nem
sequer recebeu as chaves da prefeitura. São decerto caricatos esses eventos,
mas eles revelam quão longe pode chegar a inépcia administrativa --esta, sim,
mazela generalizada. A Confederação Nacional dos Municípios estima que mais de
70% das 5.565 municipalidades não tenham cumprido a Lei de Responsabilidade
Fiscal em 2012. Dito de outra maneira: cerca de 4.000 prefeitos se mostraram
incapazes --ou não fizeram questão-- de observar normas administrativas
rudimentares, como a necessidade de condicionar os gastos municipais à
arrecadação. Pode-se até alegar, em defesa dos alcaides, que muitas
administrações sofrem impacto severo com a elevação do salário mínimo. Mas
ainda que se aceite o argumento, nem por isso os gestores ficam isentos de
seguir os preceitos legais no trato com a coisa pública. As sanções continuam
as mesmas, de multas a suspensão de direitos políticos e prisão. Não há dúvida
de que as leis devem ser aplicadas com rigor a cada caso particular, mas
dificilmente conseguirão alterar um problema que é estrutural: o número de
municípios é desmedido no Brasil, e muitos deles, criados de maneira
artificial, existem apenas para drenar recursos da União em favor de potentados
locais.
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao
Nenhum comentário:
Postar um comentário