O Ceará registrou volume de chuvas -30,1% menor na quadra chuvosa de 2015, de fevereiro a maio, em relação à média histórica dos anos 1980 a 2009, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos do Ceará (Funceme).
Segundo a Funceme, se houver seca forte em 2016, o estado entrará no maior ciclo de seca desde 1910, de cinco anos. Outro ciclo de cinco anos de seca registrado pela Funceme ocorreu no período entre 1979 e 1983.
A Funceme disse também que se a quadra chuvosa for abaixo da média até o dia 31 de dezembro de 2015, o Ceará apresentará no pior ciclo de seca, no período de quatro anos, desde os anos de 1951 e 1954.
De acordo com o presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins, a situação é grave e preocupante. "Infelizmente nosso prognóstico se confirmou. Nossa preocupação é esse número se repetir no próximo ano, 2016. Aí estaremos entrando no quinto ano de seca e pelos dados pesquisados é o mais preocupante desde 1910", disse.
Ainda segundo Eduardo Sávio os impactos da seca nos últimos quatro anos afeta diretamente os reservatórios espalhados pelo estado. "Sem chuvas, os reservatórios estão praticamente todos secos. Em 2012, por exemplo, a capacidade deles era de 63,8%. Neste ano caiu para incríveis 18,8%.
Maio mês mais crítico
Maio foi o mês mais crítico da quadra chuvosa, com 56,6% de queda na precipitação, seguido de abril, com - 40,4%, e fevereiro, com - 23,9%. Em março, a precipitação se aproximou da média histórica, mas ainda abaixo (13,1%).
A Funceme ressalta que, segundo os estudos, março e abril são geralmente os meses mais chuvosos, com médias históricas de 206,2 e 184,3 milímetros respectivamente, enquanto em maio, a média mensal para o estado é apenas 89,9 milímetros e, em fevereiro, alcança 127,1 milímetros.
Em 2015, a Região Jaguaribana foi a macroregião mais afetada, com desvio percentual de -42,0%, seguida, da do Sertão Central e Inhamuns, com -37,5% e Região da Ibiapaba com -32.7%. As macroregiões do Cariri e do Maciço de Baturité apresentaram desvios percentuais de -14,8% e -11,9%, respectivamente.
O menor desvio envolveu a macroregião do Litoral de Fortaleza com -9,2%, também próximo da média ,mas , ainda abaixo dela. A precipitação observada, durante a quadra chuvosa de 2015 em todas as macroregiões do Ceará ficaram, portanto, abaixo de suas médias históricas.
O município de Jaguaretama, na macroregião Jaguaribara, foi o que apresentou o menor total acumulado de precipitação entre fevereiro e março, com apenas, 180,2 mm, o que equivale a -69,4% em relação à normal climatológica do município para o período.
Comparação com anos anteriores
Com chuvas abaixo da média histórica de -30,1%, durante os meses de fevereiro a maio, o Ceará, em 2015, mostrou um quadro pior do que o ano de 2014, que apresentou chuvas abaixo da média histórica de -24,2%. Nos últimos 10 anos, os períodos de fevereiro a maio favorecidos correspondem a 2010 (-50,2%); 2012 (-50,2%); 2013 (-40,0%); 2014 (-24,2%) e 2015 (-30,1%).
Chuvas pós-estação chuvosa
De acordo com a Funceme, embora a estação chuvosa no Ceará tenha se encerrado em maio, tem sido registrada a ocorrência de algumas precipitações, principalmente no centro-oeste do Estado. Estes eventos, segundo a Funceme, têm sido ocasionados por sistemas conhecidos como Ondas de Leste, que são características do período da pós-estação chuvosa.
Todavia, convém, de acordo com a Funceme, observar que apesar dessas precipitações serem muito bem vindas, as normais climatológicas do período, quando comparadas com os dos meses de estação chuvosa são bem mais baixas e alcançam apenas 37,5 mm, 15,4 mm e 4,9 mm, em junho, julho e agosto, respectivamente.
Há 80% de chance de atuação do fenômeno no começo do próximo ano
Os principais centros de previsão climática em nível global mostram uma grande probabilidade de que no início do ano que vem haja atuação do fenômeno El Niño, que é caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial. Ainda é prematuro transformar essa informação numa previsão oficial para o próximo período de chuvas no Ceará (fevereiro a maio de 2016), mas a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos mostra preocupação, sobretudo por estarmos vivendo, em 2015, o quarto ano consecutivo de estiagem no Estado.
“Neste momento, há indicativos de cerca de 80% de chance de atuação do El Niño no ano que vem, e esse fenômeno pode prejudicar a quadra chuvosa de 2016”, afirma o meteorologista Raul Fritz, da Funceme. Ele informa também que, além das temperaturas do Pacífico, também será analisada a dinâmica de temperaturas do Atlântico Tropical, por isso, ainda é cedo para emitir qualquer prognóstico sobre a quadra chuvosa do próximo ano no Ceará.
Segundo dados da Funceme, na maioria dos anos em que há atuação do El Niño, o período de maiores precipitações no Ceará é irregular e tende a não atingir a categoria em torno da média climatológica.
Em 2015, o Ceará, assim como toda a parte norte do Nordeste Brasileiro, sofreu a influência negativa do El Niño. Entre fevereiro e maio deste ano, as chuvas ficaram concentradas principalmente na faixa litorânea, com índices bastante baixos no Interior. Até o dia 29 deste mês, as chuvas estão 27,5% abaixo da média do período no Estado. Além disso, as precipitações desta quadra chuvosa cessaram antecipadamente, com o distanciamento da Zona de Convergência Intertropical já no início de maio.
Um ano de precipitações irregulares como 2015 é bastante negativo em diversos setores, mas o que mais preocupa o Governo do Estado é a recarga dos açudes, principalmente por estarmos no quarto ano consecutivo de chuvas abaixo da média histórica, persistindo a diminuição do nível dos reservatórios.
Fonte: Assessoria de Comunicação da Funceme