sexta-feira, 25 de setembro de 2015

SECA NO SERTÃO.- Por Mundim do Vale



Seu Doutor eu tou chorando
Com lágrimas de um roceiro,
Acabou-se fevereiro
E março tá começando.
Dezenove tá chegando
E tá desse jeito o chão,
É essa a situação
Que tou mostrando ao Senhor.
CASTIGO DE AGRICULTOR
É A SECA NO SERTÃO.

Desça do carro importado
Venha ver de perto a fome,
Eu não lhe disse meu nome
Mas me chamo Zé Conrado.
Veja como está meu gado
Sem encontrar mais ração,
Sem levantar mais do chão,
Não faz pena Seu Doutor?
CASTIGO DE AGRICULTOR
É A SECA NO SERTÃO.

A mulher vive a chorar
Sem ter nada na panela,
Mas hoje eu disse pra ela
Que a solução é rezar.
Se a chuva não chegar
Nós vamos ao Maranhão,
No primeiro caminhão
Que passar no Mirador.
CASTIGO DE AGRICULTOR
É A SECA NO SERTÃO.

Mas se São Pedro ajudar
Me mandando uma chuvinha,
Pra molhar minha terrinha
Eu juro que vou ficar.
Vou até me ajoelhar
Pra fazer uma oração,
Em forma de gratidão
Para pagar o favor.
CASTIGO DE AGRICULTOR
É A SECA DO SERTÃO.

Já mandaram eu roubar santo
Para ver se faz chover,
Mas isso não vou fazer
Porque eu não me garanto.
Deixo o santo no seu canto
Pra não haver maldição,
Sou pobre, mas não ladrão
Não vou perder meu valor.
CASTIGO DE AGRICULTOR
É A SECA DO SERTÃO.

Saquear não é direito
Porque vai de encontro a lei.
Eu até aconselhei
Conversar com o prefeito.
Acho até difícil um jeito
De encontrar solução,
Mas eu não vejo razão
De virar saqueador.
CASTIGO DE AGRICULTOR
É A SECA NO SERTÃO.

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