A subida de 800 metros do serrote da Charneca exige. O chão íngreme deixa cansaço de rastro. Os pés calejam. De carro, só se segue até um trecho, mesmo em marcha de força. Para os que vão em fé, o suor é penitência e respeito ao sofrimento de Maria. Do alto, a vista é para o Vale da Ribeira do Machado, de arrozais e outros roçados de subsistência.
Antes de chegar ao lugar onde Bil a matou e lhe mastigou as batatas da perna, cinco cruzes no caminho apontam a devoção. Em cada uma, nos dias de caminhada, o fiel reza terço e acende vela. Ou põe flores, pedras, fotos e pedidos em papel.
As flores de plástico ou as reais, que murcham, são de graças alcançadas. Pedras pequenas sobre a madeira horizontal da cruz foram dores que saíram da cabeça e do corpo. E no papel escrito e na foto, conta-se de toda necessidade. Para cada das cinco cruzes, um mistério rezado.
Até que se chega à capelinha. Branca, pequena, sem janela, com um cruzeiro erguido diante da única porta. Ali que Bil matou Maria. E deu-se o martírio. Foi seu Clementino, pai dela, que ergueu a cruz, sem nem imaginar de alguma virtude santificada da filha. Mas o local passou a ser visitado cada vez mais.
Fizeram cobertas de palha, expuseram fotos e imagens sacras, até que, em 1957, já 31 anos após o crime, ergueram a capela. A pedido de José Alves de Oliveira (Zé Pretinho), que usou uma imagem de Nossa senhora no altar. De Maria não se sabe o rosto, não há fotos nem pinturas.
Do mesmo modo que nas cruzes do caminho, as flores, fotos, pedras e pedidos também enchem a capela. Ex-votos de pés, braços, seios e corpo inteiro, terços, fotografias de carros, motos, pessoas ou suas chagas e curas. Muitas provas escolares. Os estudantes se pegam, acreditam que Maria interceda por eles. Por fora, falam de crianças enterradas ao lado.
Para os de Várzea Alegre, Bil nunca foi merecedor de Maria. “Ela é símbolo da mulher sofredora”, diz Dayse Diniz, da Casa da Cultura local. “E Maria foi morta no mês da mulher”, reforça Zenaide Batista de Freitas, também da Casa da Cultura. No Carnaval de 2010, Maria de Bil fez parte até do enredo da Escola de Samba Mocidade Independente do Sanharol, sobre vultos varzealegrenses.
Quando o sol já era mais sombra do que luz, no dia que O POVO visitou a capela, um homem desceu pela estradinha montado num jumento. Pedimos que parasse para algumas fotos. “Maria de Bil era prima legítima de meu avô. É minha família ela aí”, contou Antônio César de Lima, 39, que vinha de um roçado de feijão e milho ali próximo.
Seguia para casa. “Todo mundo aqui reza por ela, pede saúde e trabalho. Peço pela minha filha, de 19 anos. Sempre. Ela atende. Vou a todas caminhadas”. Nós agradecemos a seu César pelas fotos e pelo desfecho espiritualizado da matéria.
(Cláudio Ribeiro e Demitri Túlio)
Antes de chegar ao lugar onde Bil a matou e lhe mastigou as batatas da perna, cinco cruzes no caminho apontam a devoção. Em cada uma, nos dias de caminhada, o fiel reza terço e acende vela. Ou põe flores, pedras, fotos e pedidos em papel.
As flores de plástico ou as reais, que murcham, são de graças alcançadas. Pedras pequenas sobre a madeira horizontal da cruz foram dores que saíram da cabeça e do corpo. E no papel escrito e na foto, conta-se de toda necessidade. Para cada das cinco cruzes, um mistério rezado.
Até que se chega à capelinha. Branca, pequena, sem janela, com um cruzeiro erguido diante da única porta. Ali que Bil matou Maria. E deu-se o martírio. Foi seu Clementino, pai dela, que ergueu a cruz, sem nem imaginar de alguma virtude santificada da filha. Mas o local passou a ser visitado cada vez mais.
Fizeram cobertas de palha, expuseram fotos e imagens sacras, até que, em 1957, já 31 anos após o crime, ergueram a capela. A pedido de José Alves de Oliveira (Zé Pretinho), que usou uma imagem de Nossa senhora no altar. De Maria não se sabe o rosto, não há fotos nem pinturas.
Do mesmo modo que nas cruzes do caminho, as flores, fotos, pedras e pedidos também enchem a capela. Ex-votos de pés, braços, seios e corpo inteiro, terços, fotografias de carros, motos, pessoas ou suas chagas e curas. Muitas provas escolares. Os estudantes se pegam, acreditam que Maria interceda por eles. Por fora, falam de crianças enterradas ao lado.
Para os de Várzea Alegre, Bil nunca foi merecedor de Maria. “Ela é símbolo da mulher sofredora”, diz Dayse Diniz, da Casa da Cultura local. “E Maria foi morta no mês da mulher”, reforça Zenaide Batista de Freitas, também da Casa da Cultura. No Carnaval de 2010, Maria de Bil fez parte até do enredo da Escola de Samba Mocidade Independente do Sanharol, sobre vultos varzealegrenses.
Quando o sol já era mais sombra do que luz, no dia que O POVO visitou a capela, um homem desceu pela estradinha montado num jumento. Pedimos que parasse para algumas fotos. “Maria de Bil era prima legítima de meu avô. É minha família ela aí”, contou Antônio César de Lima, 39, que vinha de um roçado de feijão e milho ali próximo.
Seguia para casa. “Todo mundo aqui reza por ela, pede saúde e trabalho. Peço pela minha filha, de 19 anos. Sempre. Ela atende. Vou a todas caminhadas”. Nós agradecemos a seu César pelas fotos e pelo desfecho espiritualizado da matéria.
(Cláudio Ribeiro e Demitri Túlio)
www.opovo.com.br/app/opovo/cadernosespeciais/santificadosi/2011/04/30/noticiassantificados,2166805/a-ladeira-do-martirio.shtml
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