terça-feira, 24 de julho de 2012

POLÍTICOS E O SABIÁ POLCA QUE SEMELHANÇA HÁ?



Que relação existe entre o sabiá poca e a maioria dos políticos brasileiros? Muitas coisas em comum, adianto ao leitor. Antes, porém, permita-me contar-lhe uma pequena história. Vamos lá. Como Tom Jobim, aprendi a amar os pássaros ainda na infância. Garoto criado na zona rural, eu conhecia centenas de espécies de aves: beija-flores, coleirinhas, sanhaços, tizius, rolinhas, fogo-apagou, andorinhas, juritis, tico-ticos, inhambus, codornas, curiós, periquitos, papagaios, maritacas, anus, canários-da-terra e meus preferidos, os sabiás.
Gosto muito dos sabiás. E começo a falar do sabiá poca (Turdus amaurochalinus), a espécie menos nobre, até porque, em minha infância, ele era vítima de preconceitos e menosprezado por muitos meninos, que o chamavam de “passarinho vagabundo” – talvez por compará-lo com outra espécie, o sabiá laranjeira (Turdus rufiventris), ave-símbolo do Brasil desde 2002, admirado por todos e cantado por poetas de norte a sul.
Vamos pedir desculpas ao Sabiá Poca — pela ofensa que é compará-lo com os piores políticos (Foto: Divulgação)
Já adulto encontrei na cultura caipira do interior paulista a explicação para esse preconceito contra o sabiá poca. Meu querido e saudoso amigo e professor Alberto Bottino, que foi deputado federal por Jaboticabal nos anos 1950, costumava classificar os adversários sem ética, como pertencentes à família dos Pocas. Eu e o professor Bottino nos referíamos aos políticos de segunda categoria daquele tempo, pelo apelido genérico de Pocas.
Perguntei-lhe, um dia: Por que Poca? – “Porque poca é a palavra indígena (tupi) que quer dizer coisa ordinária, de baixa qualidade” – me respondeu. Não sei se Bottino estava certo até porque ele não era especialista em linguística ou etimologia. Mas gostei da explicação e ela me ficou na cabeça. Até hoje, chamo cachorro vira-lata de “cachorro poca”, por analogia com sabiá poca.
Este é o Sabiá Laranjeira, ave-símbolo do Brasil, e que poderia também representar os bons homens públicos (Foto: Divulgação)
Pocas dominam
Entre os políticos brasileiros, infelizmente, a maioria são pocas, cujo comportamento e cujo caráter se diferenciam dos verdadeiros homens públicos, dos grandes dirigentes, dos melhores líderes e dos estadistas.
Muitas vezes eles ultrapassam a mediocridade e a condição de “passarinhos vagabundos”, ordinários, de baixa qualidade, para se transformarem em verdadeiros criminosos no poder.
Ao longo de meus 44 anos de jornalismo, devo ter entrevistado mais de 5 mil políticos. A maioria deles são pocas, para os quais o interesse pessoal está em primeiro lugar.
Como identificar um poca? Dou a seguir, alguns exemplos de pocas na política deste País. São pocas:

1. aqueles que mantêm a Voz do Brasil, como programa de rádio obrigatório de 3.000 emissoras há 76 anos;

2.  aqueles que não fazem nenhuma reforma política progressista;

3.  aqueles que apoiam plebiscito para criação de novos Estados (que, sabidamente, não terão a menor condição de sobrevivência econômico-administrativa);

4.  aqueles que reajustam os próprios subsídios nos Legislativos, em todos os níveis, do Congresso Federal às câmaras de vereadores;

5.  aqueles que têm muito mais interesse nas próximas eleições do que no futuro do País;

6.  aqueles que, para garantir seu futuro eleitoral, defendem muito mais o interesse do partido, da classe econômica, da igreja a que estão ligados, do que os maiores interesses do País e da população brasileira, e se comportam como bancadas classistas (ruralistas, radiodifusores, evangélicos e lobistas de todos os segmentos);

7.  aqueles que mantêm o status quo da burocracia nacional, dos tributos, da criação de contribuições absurdas como a CPMF e tudo o mais que constitui nosso trágico “custo Brasil”.

8.  aqueles que mantêm a impunidade em todos os segmentos da vida do País;

9. aqueles que loteiam as administrações públicas em todos os níveis da vida política brasileira.

Você, leitor, conhece algum poca completo e acabado? Não precisa citar nomes, porque não haverá espaço disponível para publicá-los

Por Ethevaldo Siqueira - 27 de junho de 2011 | 23h30

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