Nos dias atuais é visível, principalmente em cidades interioranas, que o grande sonho da maioria dos jovens - com mais frequência na fase da passagem do mundo juvenil para o mundo adulto - é a aquisição da carteira de habilitação, ou seja, a liberdade de dirigir um carro ou de pilotar uma moto. Mais preocupante ainda é a realidade que nos cerca, quando podemos constatar sem que seja necessário muito esforço, que é cada vez mais comum, principalmente no mundo das duas rodas, começar a pilotar mais cedo, e muitas vezes sem que se tenha se quer obtido a devida habilitação par a tal, mesmo em detrimento das leis de trânsito.
Impressiona o fascínio que os veículos, principalmente as motos, exerce sobre a nossa juventude. Consequentemente, intriga-nos o elevado índice de acidentes relacionados e ou ocasionados por esses veículos. É uma combinação na maioria das vezes fatal. Os super-heróis são vencidos, quase sempre, pelo efeito avassalador que a adrenalina que envolve esse sonho produz. A adrenalina, nesses casos, é mais veloz ainda do que qualquer tipo de razão. O ponteiro do velocímetro só cai quando o super-herói vem ao chão, vencido pelos seus sonhos incontroláveis de superar as barreiras de tudo aquilo que não tem explicação.
Constata-se a existência de um certo mister de sensação de superioridade, poder e de massagem de ego dos jovens que possuem ou que sabem pilotar uma moto em relação àqueles que ainda não tiveram essa oportunidade. E é exatamente nessa divisa, nessa sensível fronteira, onde predomina a sensação de liberdade associada à inexperiência, que reside o perigo, colocando os nossos jovens às margens da vulnerabilidade, contribuindo assim para o aumento, dia a dia, do índice de acidentes e mortes. Não raramente essas situações estão associadas ao consumo do álcool e drogas. Combinações mais que perfeitas e prenúncio de tragédias. Assim, a simples condição de ser um jovem e possuir ou pilotar uma moto constitui-se em dois pré-requisitos para uma vida curta, exterminada por morte violenta em acidente de trânsito. O risco de acidente para motociclistas é cerca de 10 vezes maior do que para quem utiliza o carro para se deslocar.
Podemos elencar, abaixo, algumas causas relacionadas aos riscos que envolvem os acidentes com motociclistas, principalmente na faixa de idade que vai dos 16 aos 22 anos:
- Desconhecimento total ou parcial das leis de trânsito;
- Excesso de velocidade, na maioria das vezes incompatível com as vias, grande parte em perímetros urbanos;
- Necessidade de se mostrar para os amigos, corroborando para a realização de exibicionismos como forma de se destacar dos demais membros do grupo;
- Ausência de discernimento entre o perigo real e as consequências do mesmo, levando a procura de desafios e emoções; e
- Uso de álcool e, em alguns casos, de drogas.
Infelizmente as estatísticas indicam que os acidentes de motos matam bem mais do que os de carros. No nosso País a média é de 12 mil mortes a cada ano. Estamos em segundo lugar, perdendo apenas para o Paraguai. Vidas estão sendo ceifadas em consequência do aumento da frota, da falta de campanhas educativas e da precária formação dos nossos condutores, dentre outras circunstâncias não menos importantes. O custo das tragédias é elevadíssimo. De acordo com levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) são gastos, por ano, em torno de R$ 50 bilhões com as vítimas desse tipo de acidentes.
Dentre tantas medidas possíveis para a solução do problema, ou pelo menos como forma de minimizá-lo, é imprescindível que haja uma reformulação nas formas de educação do condutor desde a sua adolescência, recomendam especialistas. Ainda, podemos destacar alguns pontos cruciais que poderiam muito bem contribuir para a prevenção e consequentemente para a redução dos acidentes. A educação em casa é o primeiro e mais importante passo, porque um bom e educado filho tende a ser um bom motociclista, cônscio de suas reponsabilidades. Diz-se que o exemplo arrasta. A liberação de moto para os filhos somente poderia ser realizada após a realização das aulas práticas e teóricas e, consequentemente com a conquista da habilitação.
Não podemos negar que tudo isso sofre uma forte influência da rápida transformação que está ocorrendo no mundo. Sabemos que educar um filho hoje em dia tornou-se um dos maiores desafios. Aliás, sempre foi um grande desafio. Entretanto, com o advento da tecnologia e a influência instantânea do mundo digital, a educação muitas vezes foge aos olhos dos pais. Algumas vezes culpa dos pais, outras do temperamentos e influências envolvidas na questão.
O certo é que, para os que ficam, familiares e amigos, uma partida repentina será sempre um sofrimento sem preço e sem a fim. Lamentável, mas que muitas vezes poderia perfeitamente ter sido evitado. É esta a realidade, triste realidade. Até quando teremos que conviver com essas tragédias anunciadas? Uma pergunta que complemento aqui, com muita tristeza, com uma afirmação: certo mesmo é que, mais hora ou menos hora ocorrerá novamente. Certamente mudará o local, mas os fatos e as circunstâncias serão as mesmas. Novas lamentações, novas lágrimas, novos gemidos. As mesmas causas e as mesmas consequências. Se ao menos essas tragédias servissem de lição para aqueles que ainda têm a chance de mudar as suas atitudes no que tange às formas de condução de suas motocicletas. Mas o tempo e a repetição dos acidentes, nos mesmos moldes, tem mostrado justamente contrário. Parece que eles, os jovens, acham que são invencíveis, que as tragédias só acontecem para aqueles que estão predestinados a sofrerem. Que pena!
Por: Tenente Horizonte
(15/11/2017).
Excelente artigo. Condizente com a verdade
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