Os
efeitos repressivos produzidos pelo Inquérito Policial Militar, aberto em 1964,
a partir da nomeação dos trabalhadores sindicalizados e lideranças políticas,
como elementos "agitadores", “subversivos” e “comunistas”. Evidenciaram
as perseguições políticas como cassação de mandatos no legislativo, e ainda sobretudo
a repressão sobre os grupos ligados ao trabalhismo petebista, bem como aos
sindicatos urbanos. Deram visibilidade também a repressão às recentes
experiências das associações de trabalhadores rurais, que começaram a ganhar
corpo no final dos anos 1950, nos povoados e nas cidades que questionavam a
posse de terra, a expulsão de camponeses da região, bem como as condições
degradantes de vida a que estavam submetidos os trabalhadores neste momento. Passados
56 anos do golpe, seus impactos e desdobramentos ainda visíveis no âmbito de
nossas relações políticas, jurídicas e sociais.
Já
sob a ótica dos próprios militares e/ou de segmentos mais conservadores da
sociedade, o evento assumira um caráter “revolucionário”, pois teria livrado o
país de uma possível “ameaça comunista”, prestes a ganhar corpo.
De
um outro ponto de vista, o evento de 1º de abril de 1964, seria uma
“contra-revolução”, serviu para estancar uma situação pré-revolucionária no Brasil.
As divergências, pois, em torno da nomeação dos eventos ocorridos em 1964,
ainda pairam em muitos debates dentro e fora das academias.
Essas
efemérides sempre são interessantes no sentido de se repensar alguns marcadores
discursivos para os eventos políticos, sobretudo para aqueles ainda encontram grandes
pontos e interpretações dissonantes nos debates e ainda estão recentes nas
memórias sociais, pois, além de próximos, do ponto de vista temporal, ainda não
foram superados seus efeitos, quando, a partir de um distanciamento, se poderiam
vislumbrar novas problemáticas, novas formas de ler os acontecimentos, os
personagens envolvidos e o lugar que ocupam na trama histórica.
Em
questão, pretendemos lançar uma breve reflexão sobre o golpe civil-militar de 1964
e o progressivo silenciamento das memórias dos atingidos pela “operação
limpeza”, em meados de abril de 1964.
Uma
noção determinante de que os efeitos e impactos do golpe civil-militar não
tiveram ressonância na nossa cidade, por conta do dito “caráter ordeiro” da
mesma
Portanto,
no meu entendimento, os discursos do anticomunismo, o ódio dos setores ligados
aos grupos tradicionais contra qualquer tentativa de ampliação de direitos
sociais, são marcas presentes, ainda não superadas em nosso país. Não superamos
também, os entraves sociais colocados em disputa e os efeitos políticos que
levaram os militares ao poder em 1964, bem como nunca se praticou um mea culpa
por parte das forças armadas, referentes aos crimes de Estado cometidos no
período ditatorial.
O
golpe, portanto, adquire um forte caráter político-partidário, a nosso ver, ao
buscar inviabilizar um projeto político ligado às massas de trabalhadores e a
grupos políticos não tradicionais, caracterizando-os genericamente como “comunistas”,
pois, segundo acusação, pretendiam instaurar uma “ditadura síndico comunista”
no Brasil, junto ao presidente João Goulart, como indica o IPM investigado.
Do
ponto de vista historiográfico, considero relevante mencionar uma obra lançada
no ano de 1988, importante fonte de interpretação extremamente pontual para as
pesquisas que se constroem atualmente sobre o sindicalismo. A obra do Varzealegrense
José Leandro é importante nesta pesquisa para a compreensão de vários aspectos
que envolvem a nossa temática e, acima de tudo, porque nos possibilita
empreender uma análise historiográfica pensada a partir do presente, percebendo
as ressonâncias da tomada de poder pelos militares, pois, entre outras
questões, o autor nos indicam que os efeitos do golpe, fazem parte de uma
memória ainda em disputa.
Esse
evento é marca de um “passado sensível”, uma vez que é um tema ainda aberto a
novas abordagens por parte dos historiadores e que acima de tudo deve ser
encarado, pois: Seus graves desdobramentos estão ainda bem longe de serem inteiramente
sanados. O golpe civil-militar de 1964 é um bom exemplo de um acontecimento que
demarca um “passado sensível”; um passado que ainda não passou. Por isso exige
que o Estado e a sociedade o enfrentem corajosamente, em nome de um futuro que
não tema o conhecimento desse passado e que em seu nome abra arquivos e permita
o acesso a informações existentes, mas não disponibilizadas ao público de
pesquisadores e cidadãos do país.
Em
1964, o Brasil sofre o Golpe Militar e a Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) sofre intervenção, sendo nomeado para o
cargo de presidente interventor, José Rotta. No Ceará, a Federação dos
Trabalhadores Autônomos Rurais na Agricultura do Estado do Ceará também sofreu
intervenção militar e o presidente Vicente Pompeu foi destituído do cargo e
substituído por José Rodrigues de Araújo (presidente interventor).
O
Governo Militar determinou a existência de apenas um sindicato de trabalhadores
rurais por município e uma federação por estado. Neste contexto, as três
federações foram unificadas em 8 de julho de 1969. A entidade única foi nomeada
de Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece).
O
ano de 1964 foi atípico, contando com a fundação de apenas um STR no Ceará;27
enquanto, em 1965, sete foram criados, e, em 1966, mais treze. Ainda em 1966,
após dois anos de intervenção do Ministério do Trabalho, a Fetraece volta à normalidade
administrativa, tendo realizado eleições em 26.06.1966 para o triênio 1966/1969.