segunda-feira, 24 de agosto de 2020

FALECE O PRINCIPE DOS POETAS PEDRO DA BANDEIRA


FALECEU na tarde desta segunda feira 24 08 o príncipe dos poetas populares   Pedro Bandeira. Pedro foi um dos ícones da cultura popular brasileira tendo ele participou dos maiores eventos folclóricos do Nordeste. Em casa, o poeta coleciona uma centena de troféus. ‘‘Este é o meu maior patrimônio’’, afirma o repentista. Pedro Bandeira é considerado o Príncipe dos Poetas.
 
Pedro Bandeira cantou para o papa João Paulo II; cantou para Oscar Niemeyer, para os ex- presidentes, Castelo Branco, Costa e Silva, João Figueiredo, Fernando Collor e é o repentista preferido do poeta escritor José Sarney, para quem cantou várias vezes, quando este era presidente da república; intelectual por quem sempre é citado em seus discursos sobre arte de improvisar, quando fala de cantoria.
 
Pedro Bandeira foi citado e elogiado por Luís Câmara Cascudo, José Américo de Almeida, Jorge Amado, Téo Brandão, Raquel de Queiroz, Rodolfo Coelho Cavalcante, e tantos outros escritores do Brasil e do exterior. Foi convidado pelo Dr. José Aparecido para ir a Portugal, o que aceitou, e juntamente com o poeta Geraldo Amâncio, fez várias apresentações, naquele país, inclusive no palácio do governo, a convite do próprio presidente Dr. Mário Soares.
 
A caminhada lírica teve início na década de 50, no município paraibano de São José de Piranhas, onde nasceu no dia 1 de maio de 1938. Formado em Letras e Direito, Pedro Bandeira recordava, com saudade do burro “Estrela”, que lhe serviu de montaria, nas estradas poeirentas do sertão paraibano.
 
Com a viola nas costas, Pedro Bandeira viajou o mundo, cantando a seca, o inverno, os pássaros, os animais, o homem nordestino.  Durante cerca de 20 anos fez o programa Violas e Violeiros na Rádio Educadora do Cariri. Ao lado de Luiz Gonzaga e padre João Câncio, participou do projeto de criação da Missa do Vaqueiro, no distrito de Laje, em Serrita.  Faz parte do ciclo do jumento, liderado por padre Antônio Vieira, Patativa do Assaré, Zé Clementino e Luiz Gonzaga.
 
Pedro Bandeira era a voz do matuto explorado que chora suas mágoas e extravasa as suas alegrias nas cordas de uma viola. Neto de violeiro, Pedro Bandeira nasceu com a poesia no sangue. A viola era, na verdade, a sua eterna companheira.
 
Jesus Meu Galope Na Beira do Mar
 
Jesus Esperança da voz do perdão
Divino cordeiro, poeta e pastor
Juiz infalível do Código do Amor
Estrela cadente da constelação
Nascente perene do ventre do chão
Painel que reflete na luz do luar
O mundo é pequeno pra te comparar
Perpétuo Socorro dos desiludidos
Farol que ilumina os barcos perdidos
Cantando galope na beira do mar.
 
Jesus padroeiro do homem de fé
Cometa visível do largo horizonte
Pedaços de pétalas que descem da fonte
Deixando perfume no igarapé
Estátua sagrada que tem como sé
Um adro, uma igreja, um santo, um altar
Piso envergonhado no teu patamar
Gemendo, vergado no peso das culpas
Orando, chorando, pedindo desculpas
Cantando galope na beira do mar.
 
Jesus o refúgio de nós pecadores
Autor da orquestra do som dos arcanjos
Poema evangélico do coro dos anjos
Maestro do palco dos bons cantadores
Canário que trina no leque das flores
Artista das almas, que vive a cantar
Lanterna profética do topo do altar
Libélula que pousa no dorso da malva
O homem é quem peca, Você é quem salva
Cantando galope na beira do mar.
 
Jesus oceano completo de encantos
Angico frondoso coberto de ninhos
Preserva a vivenda de seus passarinhos
Com sopros de vida por todos recantos
Lençol perfumado, consolo dos prantos
Da alma penada que vive a chorar
Nos teus lindos olhos quem bem reparar
Vê duas lanternas nas noites de inverno
Criança sorrindo no colo materno
Cantando galope na beira do mar.
 
Jesus tabernáculo de portas abertas
Teus gestos são mansos, teus dias são calmos
Profeta que prega o livro dos salmos
Nas areias brancas das praias desertas
Palavras de mãe no pão das ofertas
Que a mãe carinhosa não sabe humilhar
Ministro de Deus que vive a rezar
Vaqueiro prudente das ovelhas mansas
Patrão dos adultos, pastor das crianças
Cantando galope na beira do mar.
 
Jesus matemático que tira o atraso
Escola sublime de todos os mestres
Orvalho aromático das rosas silvestres
Retrato de nimbos nas cores do ocaso
Fiel seresteiro que em todo parnaso
As musas pairaram pra lhe escutar
Nasceu pra sofrer, morreu pra salvar
Varou o deserto, quebrou a algema
É chefe do fórum na corte suprema
Cantando galope na beira do mar.
 
Jesus primogênito, meu Deus e meu tudo
Tenor das colinas, garganta sinfônica
Toalha de sangue nas mãos de Verônica
Guerreiro sem flecha, sem míssil ou escudo
Rosário de pérolas, versículo de estudo
Profundo que o homem não pode igualar
Minha ignorância queira perdoar
Angústia das dores do monte calvário
Segredo do sangue do Santo Sudário
Cantando galope na beira do mar.
 
Jesus solução dos grandes fracassos
Amigo que chega na dor dos suplícios
Nas horas difíceis de mil sacrifícios
Feliz da pessoa que segue seus passos
Levando-o no peito, na alma e nos braços
Rasgando a floresta pra o corpo passar
Quem anda contigo é certo chegar
No pouso celeste dos aventurados
Banhar-se na fonte, tirar os pecados
Cantando galope na beira do mar.
 
Jesus que perdoa os fracos de ações
Estrela da paz, remédio da guerra
A única pessoa do céu e da terra
Que entende a linguagem de todas Nações
Morreu coroado entre dois ladrões
Cuspido e zombado da voz popular
Tirou na história primeiro lugar
Pendeu a cabeça pro lado direito
Pra todos os séculos merece respeito
Cantando galope na beira do mar.
 
Jesus Nazareno filho de Maria
Lições infindáveis dos povos essênios
Espelho fantástico de todos os gênios
Soluços da noite, sorrisos do dia
Montanha escalável da teologia
Caminho pra alma se regenerar
Palavra gostosa de pronunciar
Troféu dos humildes, perdão das ofensas
Estrada infinita de todas as crenças
Cantando galope na beira do mar.
 
Pedro Bandeira

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