sábado, 29 de agosto de 2020

O GOLPE DE 64 E O SINDICALISMO

 

Os efeitos repressivos produzidos pelo Inquérito Policial Militar, aberto em 1964, a partir da nomeação dos trabalhadores sindicalizados e lideranças políticas, como elementos "agitadores", “subversivos” e “comunistas”. Evidenciaram as perseguições políticas como cassação de mandatos no legislativo, e ainda sobretudo a repressão sobre os grupos ligados ao trabalhismo petebista, bem como aos sindicatos urbanos. Deram visibilidade também a repressão às recentes experiências das associações de trabalhadores rurais, que começaram a ganhar corpo no final dos anos 1950, nos povoados e nas cidades que questionavam a posse de terra, a expulsão de camponeses da região, bem como as condições degradantes de vida a que estavam submetidos os trabalhadores neste momento. Passados 56 anos do golpe, seus impactos e desdobramentos ainda visíveis no âmbito de nossas relações políticas, jurídicas e sociais.

 

Já sob a ótica dos próprios militares e/ou de segmentos mais conservadores da sociedade, o evento assumira um caráter “revolucionário”, pois teria livrado o país de uma possível “ameaça comunista”, prestes a ganhar corpo.

De um outro ponto de vista, o evento de 1º de abril de 1964, seria uma “contra-revolução”, serviu para estancar uma situação pré-revolucionária no Brasil. As divergências, pois, em torno da nomeação dos eventos ocorridos em 1964, ainda pairam em muitos debates dentro e fora das academias.

Essas efemérides sempre são interessantes no sentido de se repensar alguns marcadores discursivos para os eventos políticos, sobretudo para aqueles ainda encontram grandes pontos e interpretações dissonantes nos debates e ainda estão recentes nas memórias sociais, pois, além de próximos, do ponto de vista temporal, ainda não foram superados seus efeitos, quando, a partir de um distanciamento, se poderiam vislumbrar novas problemáticas, novas formas de ler os acontecimentos, os personagens envolvidos e o lugar que ocupam na trama histórica.

Em questão, pretendemos lançar uma breve reflexão sobre o golpe civil-militar de 1964 e o progressivo silenciamento das memórias dos atingidos pela “operação limpeza”, em meados de abril de 1964.

Uma noção determinante de que os efeitos e impactos do golpe civil-militar não tiveram ressonância na nossa cidade, por conta do dito “caráter ordeiro” da mesma

Portanto, no meu entendimento, os discursos do anticomunismo, o ódio dos setores ligados aos grupos tradicionais contra qualquer tentativa de ampliação de direitos sociais, são marcas presentes, ainda não superadas em nosso país. Não superamos também, os entraves sociais colocados em disputa e os efeitos políticos que levaram os militares ao poder em 1964, bem como nunca se praticou um mea culpa por parte das forças armadas, referentes aos crimes de Estado cometidos no período ditatorial.

O golpe, portanto, adquire um forte caráter político-partidário, a nosso ver, ao buscar inviabilizar um projeto político ligado às massas de trabalhadores e a grupos políticos não tradicionais, caracterizando-os genericamente como “comunistas”, pois, segundo acusação, pretendiam instaurar uma “ditadura síndico comunista” no Brasil, junto ao presidente João Goulart, como indica o IPM investigado.

Do ponto de vista historiográfico, considero relevante mencionar uma obra lançada no ano de 1988, importante fonte de interpretação extremamente pontual para as pesquisas que se constroem atualmente sobre o sindicalismo. A obra do Varzealegrense José Leandro é importante nesta pesquisa para a compreensão de vários aspectos que envolvem a nossa temática e, acima de tudo, porque nos possibilita empreender uma análise historiográfica pensada a partir do presente, percebendo as ressonâncias da tomada de poder pelos militares, pois, entre outras questões, o autor nos indicam que os efeitos do golpe, fazem parte de uma memória ainda em disputa.

Esse evento é marca de um “passado sensível”, uma vez que é um tema ainda aberto a novas abordagens por parte dos historiadores e que acima de tudo deve ser encarado, pois: Seus graves desdobramentos estão ainda bem longe de serem inteiramente sanados. O golpe civil-militar de 1964 é um bom exemplo de um acontecimento que demarca um “passado sensível”; um passado que ainda não passou. Por isso exige que o Estado e a sociedade o enfrentem corajosamente, em nome de um futuro que não tema o conhecimento desse passado e que em seu nome abra arquivos e permita o acesso a informações existentes, mas não disponibilizadas ao público de pesquisadores e cidadãos do país.

Em 1964, o Brasil sofre o Golpe Militar e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) sofre intervenção, sendo nomeado para o cargo de presidente interventor, José Rotta. No Ceará, a Federação dos Trabalhadores Autônomos Rurais na Agricultura do Estado do Ceará também sofreu intervenção militar e o presidente Vicente Pompeu foi destituído do cargo e substituído por José Rodrigues de Araújo (presidente interventor).

O Governo Militar determinou a existência de apenas um sindicato de trabalhadores rurais por município e uma federação por estado. Neste contexto, as três federações foram unificadas em 8 de julho de 1969. A entidade única foi nomeada de Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece).

O ano de 1964 foi atípico, contando com a fundação de apenas um STR no Ceará;27 enquanto, em 1965, sete foram criados, e, em 1966, mais treze. Ainda em 1966, após dois anos de intervenção do Ministério do Trabalho, a Fetraece volta à normalidade administrativa, tendo realizado eleições em 26.06.1966 para o triênio 1966/1969.

Nenhum comentário:

Postar um comentário